Valor econômico: Open Insurance, novo ecossistema

Por Sonho Seguro, janeiro de 2022.

O Valor Econômico produziu um especial de quatro páginas sobre o Open Insurance. O tema é pauta de todas as empresas que atuam no setor e também de muitos investidores interessados em atuar no segmento, que apresenta grande potencial de crescimento no Brasil para os próximos anos. Além das oportunidades de negócios, há também muitos desafios.

Segundo dados da CNseg, a confederação das seguradoras, as discussões sobre o tema já consumiram mais de 4 mil horas de serviços internos das empresas e consultorias; mais de 50 estudos, pareceres e notas técnicas; mais de 300 profissionais dedicados; 13 grupos de trabalho, 75 reuniões realizadas e mais de R$ 25 milhões investidos inicialmente.

Um dos temas que ainda gera controvérsia é a SISS. Trata-se da Sociedade Iniciadora de Serviços de Seguros, já regulamentada e desde novembro disponível para credenciamento dos interessados junto à Superintendência de Seguros Privados (Susep). De acordo com a autarquia, a expectativa é que as SISS contribuam para a expansão e ganho de eficiência no ambiente do open finance.

O grupo Bradesco Seguros afirma que ao mesmo passo que o modelo gera um potencial competidor para os profissionais de seguros, o ecossistema acaba trazendo empoderamento. “Por consequência, maior responsabilidade para o potencial consumidor.  Mas, assim como toda mudança, é algo que deve ser aplicado e observado com atenção”, afirma Fabio Dragone, diretor de Inovação, CRM e Digital da Bradesco Seguros. 

O receio inicial de que os corretores seriam eliminados pelas startups de tecnologia vem se reduzindo a cada dia, diante das parcerias entre seguradoras e insurtechs. “A tecnologia não vai encurtar o espaço para atuação da categoria. Ao contrário, o que temos constatado é que aquilo que poderia ser uma ameaça está se constituindo em excelente oportunidade de trabalho e de ampliação da nossa atuação e base de negócios. Temos visto muitas parcerias e investimentos por parte dos corretores”, comenta Armando Vergílio, presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor), categoria que totaliza 110 mil profissionais em todo o Brasil.

Enquanto se busca acertar aparas da regulamentação, muitos já se movimentam nos bastidores para entender qual será a melhor estratégia. A corretora Wiz foi a primeira a se credenciar na Susep. Chama-se Wiz Open X. “A SISS é o caminho para proporcionar aos consumidores uma experiência que permita melhor organização dos seus produtos de seguros, de diferentes seguradoras, em um mesmo ambiente digital, com comparação de ofertas de forma simplificada”, afirma Carla Nabarrete, diretora de estratégia, marketing e tecnologia.

As corretoras Marsh e Lojacorr, a TEx Tecnologia e até mesmo a insurtech Pier avaliam o assunto com seus escritórios de advogados. “Criar uma SISS é uma das possibilidades concretas. Parece uma forma poderosa de garantir uma excelente experiência ao segurado e criar um espaço formal de trabalho ao corretor no ambiente de Open Insurance”, afirma Diogo Arndt Silva, CEO e cofundador da Rede Lojacorr, que conta com 44 seguradoras parceiras para ofertar produtos aos 1,3 mil corretores associados, informaram em entrevistas a jornalista Denise Bueno.

Abaixo os temas abordados pelo especial do Valor.

Insurtech – Baixa penetração de seguros, mudanças regulatórias e avanços tecnológicos são os principais fatores por trás da evolução nos últimos anos das chamadas insurtechs, startups com soluções para o mercado segurador. Desde 2016, o número de empresas nascentes no setor mais do que triplicou chegando a 169 iniciativas no Brasil, conforme dados levantados pela Distrito a pedido do Valor.

Tecnologia – Insurtechs ou startups do ramo de seguros estimam um crescimento de até 50% nos negócios, com a chegada do open insurance. A versão do open banking para o mercado segurador vai permitir que clientes compartilhem dados com mais seguradoras ou terceiros, ampliando o acesso a produtos e serviços.

Mundo – “Conceitualmente, a ideia de open insurance já existe lá fora. O próprio Reino Unido, depois do open banking, já imaginava ampliar para seguros, mas lá a coisa está andando de forma mais lenta”, explica Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem e diretor para América Latina da FDATA, associação britânica de fomento a um sistema financeiro mais aberto. “Temos chance de virar referência para outros países, que estão em estudos preliminares sobre open insurance.” Segundo a Susep, existem muitas referências internacionais sobre sistemas abertos, inclusive no setor de seguros.

Compartilhamento – Segundo dados da Bain&Company, 59% dos consumidores não pretendiam compartilhar dados em troca de benefícios no primeiro trimestre de 2021, como ofertas exclusivas ou condições diferenciadas. O mesmo estudo indicou a necessidade de investimentos em comunicação: no open banking, adesão interessava a menos de 30% dos brasileiros, mas subiu a 44% seis meses depois.

SRO – Para Marcos Watanabe, cientista de dados chefe da Suthub, empresa que desenvolve a plataforma do SRO, o mercado ganha com a aceleração de governança e aumento da transparência, mas os desafios são grandes. “O SRO será o maior repositório de dados de seguros da América Latina e vai pavimentar o open insurance”, afirma Watanabe.

Previdência – O sistema de seguros aberto deverá aumentar a portabilidade de recursos entre planos VGBL e PGBL de diferentes seguradoras, acreditam participantes do mercado. Com o compartilhamento de dados, será mais fácil para os investidores compararem as características dos produtos – e, na fase final de implantação do sistema, migrar recursos de uma seguradora para outra.

SISS – Marcio Coriolano, presidente da CNseg, a confederação das seguradoras, afirma que os produtos de seguros em muitos casos são complexos e pedem uma assessoria, como acontece no ramo dos investimentos. Um dos pontos relevantes que precisam ser mais debatidos, segundo Coriolano, é que a regulamentação da Susep permite que as 26 iniciadoras de pagamentos registradas no Banco Central para atuarem no open banking possam ser SISS, mas exige que se um corretor quiser atuar como tal terá de abrir uma S.A., com capital mínimo de R$ 1 milhão. “Isso gera um desequilíbrio concorrencial e esta possibilidade nem constava na consulta pública sobre o tema.

Corretores – As seguradoras afirmam estar de mãos dadas com os corretores no sistema aberto de seguros. É consenso no setor que esses profissionais de vendas, hoje responsáveis por 78% da comercialização no Brasil, têm um papel fundamental em difundir a cultura de seguros num país que se esforça há décadas para elevar o consumo per capita dos produtos e serviços, hoje em US$ 271, muito abaixo da média mundial de US$ 809, segundo estudo da Swiss Re.

Parcerias – O segredo para se destacar no novo ambiente de open insurance, segundo os analistas, é estabelecer parcerias amplas e irrestritas. E as seguradoras já estão correndo atrás delas. O órgão regulador tem ajudado com resoluções mais modernas e flexibilização de regras, possibilitando que as seguradoras unam-se a bancos digitais, fintechs, insurtechs, bigtechs, corretoras digitais e marketplaces, ampliando a oferta de produtos e serviços e tornando o ambiente mais competitivo.

Competição – “Antes de colocar a operação em pé, compartilhamos e construímos a primeira plataforma digital de seguros no Brasil, com 18 produtos 100% digitais”, conta Paulo Padilha, CEO da Inter Seguros, que registrou 840 mil clientes ativos em dezembro de 2021, um salto de 229% em 12 meses. O executivo vê muito potencial a ser explorado dentro da própria base do banco, que possui 16 milhões de clientes. “A competição aumentou tanto que fundos de investimentos estão tendo cada vez mais participação não só na construção de novas seguradoras, mas também nos canais digitais de distribuição e oferta de novos produtos e serviços”, afirma Lucas Vilas, diretor de advisory da PwC Brasil.

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